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Capítulo 2: A volta a estrada

Parte 1: Decisões

Alice não conseguia dormir, ficava vendo seu amado tremendo ao seu lado. Ela colocou a mão em seu rosto e o sentiu gelado, não era de se surpreender, a casa era muito fria a noite e eles quase não tinham nenhuma coberta.

- Davi, tá tudo bem?

- Tudo - Disse Davi, com uma voz meio sonolenta.

- Você está sentindo muito frio?

- Um pouco...

- Deixa eu te ajudar.

Alice tirou sua blusa e começou a tirar a camisa de Davi. Ele se movimentava devagar, mas ainda com tremor.

Depois de tirá-la ela deitou, com seu corpo entrelaçado ao dele. Sentia-o gelado, mas parando de tremer. Com o tempo voltou a senti-lo quente e finalmente conseguiu dormir.

Alice acordou quase junto com o sol. Se levantou devagar para não acordar seu amado e foi em direção a pequena horta, levando o seu machado em mãos. Chegando lá começou a colher algumas das plantas que estavam prontas.

Antes de começar a cozinhar, ela precisaria de panelas, talheres e alguma proteína para acompanhar a comida, então foi em direção ao carro para buscar tudo.

No carro Alice pensou em dirigi-lo até a casa, já que não precisariam se preocupar com o barulho, mas achou melhor apenas dirigir o carro quando Davi acordasse e estivesse ao seu lado no passageiro, caso algo desse errado.

Ela precisou fazer 2 viagens para carregar tudo, demorando cerca de 20 minutos no total, mas finalmente poderia começar a cozinhar.

Quando Davi acordou, viu Alice já na mesa, escrevendo em seu caderno - Bom dia Amor, conseguiu dormir bem? - Perguntou Davi.

- Mais ou menos, estava preocupada com você.

- Não precisa se preocupar, já estou me sentindo bem melhor.

- Que bom que você se sente bem, mas seu osso não vai melhorar de um dia para o outro, então senta aqui - Alice deu um tapinha na cadeira ao lado dela - Você vai precisar comer bastante para se recuperar.

Davi sentou-se ao seu lado, em sua frente havia um grande prato cheio com batata, alface, tomates, beterraba e atum.

- Muito obrigado Amor - Disse enquanto começava a comer, utilizando sua mão esquerda, apesar de ser destro - Aqui tem gás? Como conseguiu cozinhar a batata?

- Não... - Falou Alice, que retirou sua tala e começou a analisar seu braço - Vamos ter que ficar aqui até você melhorar...

- Você sabe que não podemos ficar aqui por muito tempo. Temos que ir pegar o seu comprimido logo. Não podemos ficar gastando tempo.

- Davi, você precisa descansar. Posso ficar um tempo sem os meus comprimidos, mas você não pode ficar sem o braço. Não tem discussão nisso.

- Até posso esperar um pouco, mas quando tivermos de ir, nos iremos, você queira ou não. - Davi se levantou e saiu.

Passando pela porta de casa finalmente viu por completo a criatura que o atacou. Ela era muito parecida com o Tagarela, porém tinha apenas um braço e sua cor era um vermelho vibrante como um rubi.

Alice veio até seu lado e começou a lhe fazer um carinho nas costas.

- Não sabia que tinha sido um Sangrento que me atacou... - Disse Davi, olhando para a criatura - Esqueci como você era boa de mira Amor.

- Boa mais ou menos, você não sentiu uma das balas atravessar o seu ombro?

- Na hora eu senti foi um alívio por ele ter parado de me morder.

- Tivemos sorte, ele caiu com a última bala. Estava vendo a hora que eu ia ter que arremessar a pistola.

Davi ficou olhando para o braço que faltava no Sangrento. Vários pensamentos começaram a passar por sua cabeça, pensando que a criatura poderia ter machucado ele ainda mais, poderia tê-lo matado, poderia ter matado a Alice...

- Ursinho - Disse Alice, tirando Davi de seus pensamentos - volta pra dentro, deixa eu recolocar a tala no seu braço e por favor, termina de comer.

Os dois voltaram para dentro. Davi continuou comendo, esperando a analise minuciosa da Alice, que passava por todos os seus machucados. Os pontos não paravam de sangrar, mas o sangue que escorria era mais claro que o normal, apenas um pouco mais escuro do que a cor do Sangrento.

- Vou pegar mais do remédio - Disse Alice se virando e pegando o frasco.

- Acho melhor eu não tomar isso.

- Como assim não tomar? Não pode, "não tomar". Você sabe o que pode acontecer se - Alice foi interrompida.

- Eu sei, mas quanto tempo eu vou ter que esperar para esses pontos cicatrizarem?

- Uns 10 dias.

- Só temos 14 e nem estamos falando do meu braço, sem contar que nem sabemos se ainda não saquearam a farmácia que estamos indo.

Alice ficou em silêncio.

- E se tivermos que ir atrás de outra? - Perguntou Davi - Vamos precisar de tempo.

- Você não pode ficar sem o remédio Ursinho.

- Só tem esse jeito.

Alice saiu da casa sem olhar para trás. Davi não a seguiu, odiava essas discussões, mas sentia que estava fazendo o certo.

Seu ombro continuava sangrando, então ele retirou o curativo e trocou por um novo.

Após poucos minutos Davi começou a ouvir um som de carro. Saindo da casa viu o seu carro chegando e estacionado ao seu lado. De dentro saiu Alice que disse - Pega o rádio.

Davi pegou o rádio amador, colocou uma antena no telhado da casa e instalou o rádio em uma pequena mesa que ficava no quarto, onde aproveitou para colocar o mapa que usavam e um pequeno caderno com uma caneta. O rádio era energizado por um cabo, que passava pela janela da casa e ia para um transformador que estava ligado na bateria do carro.

- Deve ter alguma comunidade aqui perto - Disse Alice - Eu sei que você consegue achar uma farmácia assim.

- Não é certo que vou conseguir uma farmácia assim. Mesmo que tenha alguma comunidade aqui perto, precisaria de tempo até surgir alguma informação importante.

- Que bom que tem alguém aqui que precisa de repouso e está com muito tempo livre.

- Bom, eu posso tentar.

Davi começou a mexer no rádio, passando pelas frequências de curto alcance, até que recebeu um sinal. Era uma conversa entre dois homens.

- Nenhuma baixa, vários Tagarelas mortos e conseguimos um pouco de suprimentos. Quando que o Senhor quer recebê-los?

- Não, esse não é pra trazer pra cá. Pode ficar com eles.

- Ok Senhor.

- Tem algum jeito de você me chamar de Paulo?

- Não Senhor.

- Então tá, se é o que você quer... Depois voltamos a nos falar.

- Certo Senhor.

- E mais uma coisa, como que ele está?

- Alexandre está bem, bem alimentado. Trabalhando todos os dias, mas nada de trabalho pesado.

- Pelo menos de um descanso para o meu garoto no fim de semana, ok?

- Claro Senhor.

- Ele ainda não quer falar comigo né?

- Acredito que não, Senhor.

- Depois tentamos de novo. Alguém daqui deve contatar aí em poucos dias, deixe outra pessoa receber a ligação, mas a gente continua nos mesmos horários e nos mesmos dias, ok?

- Certo Senhor.

- Tchau Natham.

- Tchau Senhor.

A linha ficou muda. Davi continuou procurando pelas frequências de curto alcance, mas não encontrou nada, apenas uma pequena estática, mas incompreensível.

- É Amor, a gente tem uma grande chance de conseguir uma localização de farmácia assim, mas tem uma coisa que precisamos ficar atentos. Quando derem a localização, temos que ser rápidos, pode ser que essa comunidade não goste da gente pegando alguns comprimidos, mesmo que sejam poucos comparados a uma farmácia inteira.

- Será que não poderíamos ajudar eles como na última comunidade?

- Acho melhor não arriscar. Quero que a gente pegue a localização, vá até a farmácia e saia da cidade antes que eles cheguem lá. Assim a gente não se preocupa com eles serem amigáveis ou não.

- Tudo bem, mas agora vai descansar e vê se toma aquele remédio. Vou fazer nossa comida.

- Ok, até posso tomar um pouco, mas não tudo.

- Pelo menos é alguma coisa.

Alice entregou um pouco de remédio a Davi, que o tomou e disse - Amor, pelo que eu me lembro, a um tempo atrás você me disse que queria um Sangrento para poder fazer suas pesquisas.

- É...

- E agora a gente tem um deitado na porta de casa. Não quer começar? Não sei se ele vai ficar ali por muito tempo.

- Ursinho, você tá machucado, não acho que você precise ficar fazendo isso. Vai precisar de muito tempo pra embalar tudo quando formos sair.

- Não foi você que disse que estávamos com tempo? Vamos, só precisa me falar o que eu tenho que fazer.

- Tá, então vamos pegar as minhas coisas no carro.

Davi foi até o carro e começou a retirar algumas caixas de dentro dele. Era visível o esforço que tiveram para manter a caixa protegida de todo o balanço que o carro sofreria na estrada.

De dentro da caixa Davi foi retirando um monte de vidros de formas e tamanhos diferentes. Ao seu lado Alice conferia a mesa para ver se estava bamba e se não iria simplesmente desmontar. Após checar foi pegando os vidros e ajeitando em cima da mesa.

Depois de tudo estar organizado Davi perguntou - O que você precisa agora?

- Vou precisar que você pegue esses beckers e coloque uma amostra do Sangrento dentro de cada um deles.

Davi ficou olhando para a mesa, tentando entender o que era um becker.

- O copo com medida Amor.

- Obrigado - Davi pegou os copos com medidas e foi até o Sangrento. Com a machete retirou uma pequena parte da gosma que o envolvia e colocou no recipiente.

- Agora vamos testar se isso reage da mesma forma que a amostra do Tagarela reagiu, ok? - Disse Alice enquanto abria o seu caderno e via suas anotações.

- Ok...

Alice foi dando inúmeras instruções para Davi, que mal entendia o que era para ser feito, muito menos entender os resultados daquilo.

Os dois ficaram horas nisso.

- Muito obrigado Ursinho, é bom saber que ele reage de forma diferente para certos compostos. Talvez algum dia a gente pode usar isso. Mas acho que é melhor a gente ir comer agora.

- Honestamente Amor, mesmo com o seu caderno eu não iria conseguir fazer nada, mas fico feliz de você estar feliz.

- Obrigada Ursinho. Acho muito chato eu ter que ficar precisando de você para fazer os experimentos.

- Nada Amor, pode ficar me usando a vontade. Não tem como eu me reinfectar. Não vejo problema nenhum em te ajudar. Mas até agora você não me contou como que cozinhou aquelas batatas.

- Verdade, tinha me esquecido disso. Aqui tem um fogão a lenha, foi só limpar e pronto.

- Sorte a nossa. Temos lenha suficiente para ficar os dias que faltam?

- Está quase acabando, mas ainda tem para hoje.

Davi foi em direção a Alice e pegou o seu machado.

- O que pensa que vai fazer com isso?

- Vou pegar mais lenha, a gente vai precisar.

- Não é melhor você repousar?

- To precisando esticar as pernas, e pode deixar que eu não vou fazer nada imprudente - Davi saiu da casa e foi até algumas pequenas árvores que começou a cortar utilizando apenas o braço esquerdo.

Demorou mais do que esperava para pegar um punhado de madeira, mas seria suficiente para eles ficarem ali por mais alguns dias. O levou para dentro e o deixou em um canto do cômodo.

- Amor, não está doendo? - Disse Alice na cozinha, olhando para o seu ombro - Tem certeza que não quer tomar mais do remédio?

Só agora que Davi reparou que seu ombro voltou a sangrar - Não, vamos só trocar o curativo. Você sabe que assim é mais rápido.

Alice parou de cozinhar para ajudá-lo a trocar o curativo. Era perceptível em seu olhar como ela não gostava daquilo, mas fez, já que era isso que Davi queria.

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